segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Novo Blog

Á muito tempo surgiu um novo ponto em minha mente, mas só agora tomou forma o suficiente para se expor. Criei ,então, este pequeno lugar para deposita-lo.
Aproveitem.

domingo, 13 de novembro de 2011

Envolto em trevas

Por tempos observei aquela criatura sombria. Quieto, tenebroso. Não se aproximava de ninguém, não falava com ninguém. Eu tentava me aproximar, o chamava para meu mundo, mas eras envolto em trevas das quais não se soltava. Infiltrei-me então, em sua escuridão, e lá no meio eu vi algo belo. Vi uma pequena e apagada luz, enfraquecida pelas sombras. O abracei, abracei e o aqueci. E por mais que viva em uma noite sem fim, flutuando no vazio, eu brilharei e o aquecerei com minha luz branca, e se deixares, serei a estrela guia, a lua que ilumina este céu tão tenebroso.

E agora, sua escuridão aprisiona a uma luz, e minha luz a uma escuridão, e eu tão aconchegada em seu leito, achando ser eu a criatura necessária, deixei-me levar, agora não mais te envolvo em meu brilho, mas afundo em você, cada vez mais fundo, cada vez mais presa a essa vontade de ser protegida por você que zela tanto pela inocência de minhas fantasias.

domingo, 9 de outubro de 2011

Fim de um novo dia

-Olhares de mascaras ambulantes
que rodeiam nossa sociedade
todos te observando e julgando
a escuridão dentro de você.

Recita um anjo que voa sobre um pequeno mundo.

-A receita que te transforma em humano
os ingredientes que fazem de você alguém
as mentiras que você inventa para se cobrir
a pessoa que você tenta esconder.

Voando baixo, brandando sua espada contra a aura das pessoas que andam tristemente pelas ruas

-Sua essência se apaga
a que faz de ti um ser único
rasteja de volta para onde veio
deixando seu mundo obscuro.

Tendo recolhido varias almas, o anjo as joga em uma sacola fechada, e joga por cima das costas e termina:

-Mas assim como a noite
seu desespero terá fim
uma nova chance sempre é dada
e com esperança aguardamos muito
que se purifique teus sentimentos
e ao raiar deste novo dia
uma nova geração dominara
e um novo mundo se criara
sobre o fim que se aproxima.

domingo, 11 de setembro de 2011

La mort l'amour (Final)


Ele, imóvel de baixo dela que se mantém com o braço erguido e o punhal firme em sua mão, não resiste, não pensa em nada alem de suas lembranças, não esta mais no presente, ele a encara mas não vê seu rosto amargurado e sim seus milhões de sorrisos dados nas incontáveis manhas que viveram juntos, nos beijos que davam entre risadas, dos olhares trocados por desconhecidos, quando acordado por uma gota em sua face ele realmente olha para o presente e a vê com lagrimas nos olhos e tremula. Então com um sorriso involuntário ele se senta rapidamente e a puxa para perto de seu peito nu. Saca uma arma de baixo de seu travesseiro e a segura nas costas dela.

-gostaria que aqueles dias nunca tivessem terminado. Ele diz com o rosto apoiado na parte de cima da cabeça dela. Gostaria de continuar acordando com você, dormindo com você, dançando com você, vivendo com você...

Ela afunda o rosto em seu peito. E diz:

-mas não podíamos...

-cometemos um erro. Deixamos que nos separassem, deixamo-nos levar pelas leis e pela sociedade. Cometemos um erro ao não perceber que aquilo era o que estava realmente errado... E não nós.

-mas o que podíamos fazer? Nos somos separáveis...

Ele solta um suspiro.

-quando tudo ficou tão complicado James? Lembra-se de quando éramos crianças e vivíamos brigando? Você puxava meu cabelo na frente de nossos colegas... Mas quando estávamos sozinhos, era um príncipe. E aqui estamos nós, novamente tentando matar um ao outro, sem ao menos ter curado nossas cicatrizes recentes. Novamente estamos aqui, ambos sangrando e manchando nossas roupas, abraçados raivosamente, aguardando para ser separados...

-Angi... sabe porque eu vivo casando-me com estranhas que apenas se interessam por minha fortuna?

- gosta de escolher as mais bonitas para exibir a seus amigos.

-talvez, e sabe o porque de eu não conseguir permanecer com nenhuma delas?

-porque elas envelhecem ou ficam absoletas para você James.

-o que você pensa que eu sou Angelique? Ele diz tão alto que a faz estremecer. Você esta muito enganada a meu respeito.

Ainda presa por seus braços, ela levanta o rosto para ele com olhar de duvida.

-vivo casando-me com estranhas a procura de que alguma dessas belas damas preencha o vazio dentro de mim.

-hum...

-o vazio que você deixou... Angi.

Anestesiada com aquelas doces palavras, involuntariamente ela o puxa para próximo de si, mas para.

-...e novamente viveremos separados e com outras pessoas. Murmura.

-Lembra-se de quando tínhamos onze anos? No dia de são Valentim, eu lhe dei...

-minha primeira rosa. Ela enfia a mão no bolso do vestido e tira uma rosa branca conservada em um pequeno frasco de vidro, envolta em um liquido amarelo. "Nunca se separe dela" foi o que você disse quando me deu ela.

Ele examina a rosa espantado.

-nunca se separe dela... era o que eu dizia a mim mesmo sobre você. Nunca cumpri minha promessa não é mesmo?

-tudo bem... nunca acreditei em suas promessas.

Ele treme. A arma continua firme em suas mãos apontada para ela.

-eu deveria pelo menos cumprir uma na minha vida...

Ela ano responde.

-Angi, você quer ficar comigo para sempre? Quer que nos tornemos inseparáveis? Quer unir nosso sangue e para sempre permanecer com sua alma ao lado da minha?

Ela fecha os olhos.

-James...

E levemente seu dedo aperta o gatilho, o barulho ensurdecedor se espalha pelos quartos, desce as escadas e perde o volume ao se misturar com as outras sonoridades escandalosas da festa que continua.

Na cama residem os dois corpos envoltos em sangue, abraçados com um buraco em cada peito e os corações estilhaçados espalhados pelas paredes, misturados, indefinidos, jamais serão separados novamente.

Fim

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

La mort l'amour (2°parte)


"-Suma Angelique... O nosso mundo, não pode mais existir." Lembrava-se das palavras, segurando uma faca. "me prometa Angi, que quando não pudermos mais viver juntos, não mais viveremos?", uma lagrima escorre por seu rosto, "Vamos mate-me!". Ela se lembra do dia em que vieram separá-los:

"-eles chegaram Angi. Pegue suas malas.

-James, eu não quero...

-Acabou o verão Angelique, acabou nosso tempo.

Ela se agacha e chora

-James...

-Nós temos que cumprir nossa parte do acordo Angi, não podemos mais... Acabou."

Ela seca seus olhos e aperta a faca nas mãos. "acabou" ela pensa.

Subindo as escadas furiosamente, James carrega um papel em sua mão. "vivo para matar-te", vinha escrito no bilhete achado dentro de uma taça de vinho. Ele deixara todas as suas pretendentes para trás e andava a procura de sua assassina.

Abrindo todas as portas de quartos vazios, com o punhal firme em sua mão.

-Angelique! Apareça!

Até que finalmente, o estrondo da porta se abrindo bruscamente não a assusta. Parada em pé, olhando janela a fora. Em um rápido movimento joga a faca que passa perto de seu rosto cortando fios de cabelo. Ele se agacha e a recolhe. Sem ponta.

-Mesmo após tantos anos, ainda se contem antes de tentar me matar.

Ela avança para cima dele com dois punhais, atacando e desviando, assim como ele. Em uma dança sanguinária, os dois viciados em sua vontade de matar um ao outro. Entre passos e giros, ela cai. Mas continua a encará-lo com olhos firmes, não teria tempo de se levantar. Ele se ajoelha e aproxima o rosto do dela.

-até quando pretendemos continuar com isso?

Então ele sente, escorrer por sua perna um liquido quente e sua carne rasgar.

-só até eu te matar James.

Ela avança, eles brigam, e brigam, e brigam repetidamente.

-Você nunca se casou... porque?

-calado!

-nunca se sentiu atraída por ninguém?

-calado eu disse!

-ou nunca pode se esquecer de nós dois? Ele provoca.

"nós dois" ela lembra. Dias que viveram juntos, morando juntos mesmo que apenas por um verão, apenas eles dois, sem planos para o futuro, sem pensar de onde vieram ou para onde iriam. Apenas juntos em uma pequena casa no meio do campo. Longe de todos e de tudo, longe dos olhares e das ordens. Longe da sociedade, longe de seus nomes, de seus afazeres, longe de quem eram para o mundo. Apenas eles dois sendo quem eram para si e para o outro. Onde não eram ninguém, apenas eles.

Ela sorri, ele se distrai e é acertado abaixo do peito, se afasta cambaleando e cai sangrando no chão.

-JAMES!

Ela grita num lapso.

"James" ele escuta a voz de uma garotinha chamando. "James vamos para o jardim?" E por um momento ele viaja no tempo, de volta a memórias antigas, onde uma garotinha chama seu nome graciosamente, onde ele cresce ao lado de uma bela menina. "James" ecoa ela chamando em sua mente, "James", ele se lembra repentinamente de como fora feliz. "James" ele lembra de vê-la chorando. "James".

-JAMES! Ele a escuta gritar do outro lado do quarto

Levanta-se com a mão no rosto. Pensativo, começa a sorrir. "ela não mudou" ele pensa.Então deixa que o punhal caia no chão, abre os braços, como se esperasse sua vinda. Furiosa, confusa, ela corre em sua direção, segurando sua arma, corre para ele, corre para matá-lo, mas ele não vê seu ódio, vê apenas aquela moça singela que corria para abraçá-lo quando chegava em casa.


Continua...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

La mort l'amour (1° parte)


Em um lado de uma festa, se dirigem todos os olhares das moças solteiras. James Brown acaba de se divorciar pela quinta vez, e como sempre esta a procura de uma nova ovelha. Charmoso, o jovem mestre da mansão encanta a todas com seu sorriso. Nada mais chama atenção alem dele e de suas belas fãs.

Do lado oposto do salão, começa a florescer um amontoado de homens e risadas, todos em circulo rodeando algo... Ou alguém. James olha para lá, um tanto curioso, driblando todos os olhares e todos os que entram em sua frente ele consegue enxergar o botão desta flor humana.

Graciosa, charmosa, diferente de todas as outras damas, essa tem um sorriso tão chamativo quanto do chefe da casa. Rodeada de homens, uma antiga conhecida de James, Angelique, encanta a todos que a escutam.

Assim como James, Angelique é solteira, embora não tenha se casado nenhuma vez. Ele continua a olhá-la, até que ela o nota e revida o olhar com certo desprezo. Ele irritado se dirige até onde ela se encontra, deixando seu rebanho para trás, ao chegar a ela todos os outros se sentem injustiçados e se afastam murmurando "quem tem chance contra James?".

Ela o olha indiferente, até que com um sorriso irônico ele a tira para dançar. Eles entram na pista de mãos dadas, quando chegam ao centro se separam e ambos fazem uma reverencia. Os violinos dão a primeira nota e a dança começa. Passo a passo, fortes e serenos, sendo levados pelo salão, sem perder de vista o olhar um do outro, irritada ela dança ferozmente distraindo a atenção de seu par, que apenas percebe quando sente algo pontiagudo e afiado cutucando suas costas.Ele já ciente de seus truques, coloca rapidamente uma adaga virada para ela também. Ambos discretos, não deixam que ninguém no salão perceba o que acontece entre si.

É a hora do giro, ela vai, volta se enrolando sem seus braços e se inclina para traz, quando sente o metal cortando sua pele. Novamente de pé, a dança continua. Próximo passo, ela se afasta segurando apenas pela mão que a puxa novamente para perto. Dessa vez ele é quem sente sua carne arder.

A musica acaba, eles se afastam, se cumprimentam e vão para lados opostos.

Continua...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Brilho Intenso

um sentimento de fúria sobe pelo meu corpo

o vazio toma conta de mim

sinto que o que me torna tudo

pode me reduzir a nada

sinto-me flutuando no escuro novamente

perdida e sem rumo nas trevas

sinto que o mundo se dissolveu em meu abraço

e que seus restos se afastam lentamente

me arrasto cegamente a procura de uma luz

e a vejo

tão frágil e sensível ao meu toque

tenho medo de me aproximar

de deixar que ela tome conta de mim

de me entregar a aquela luz

quero sentir-me parte deste calor intenso

quero sentir-me necessária para este brilho

quero agarra-lo com unhas e dentes

mas tenho medo de machuca-lo

tão sensível

apenas quero fazer parte desta luz

domingo, 28 de agosto de 2011

Onde os olhos veem um campo vazio
eu vejo faunos e fadas festejando
em um céu azul e limpo
eu vejo pássaros dourados voando

na densa neblina de um bosque
eu vejo um mundo de fantasias
e em uma simples porta de um quarto
eu vejo um portal para um mundo inimaginável

quarta-feira, 27 de julho de 2011

vago comigo mesma


procurando por mim mesma


num espelho sem reflexo


vago a procura de mim mesma


onde eu mesma me enviei


me jogando aos leoes


nessa busca tao feroz


busco por outrora


quando brincava de correr


e na busca por mim mesma


eu me perco.


me solto de minhas maos


e caio na mais profunda solidao


onde ninguem me achara


nem eu mesma


e a duvida me é um estrondo


realmente me perdi?


ou me escondo?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

luar frio ilumina o céu de chamas

noite alucinante assume meus pensamentos

deito-me no sossego da noite

com a grama pinicando meu rosto



sinto o orvalho molhando meu corpo

que afunda na terra úmida

guardadora de historias e memórias

alojadora de corpos



deixo a lua hipnotizar meu olhar

deixo que me absorva por completo

que leve minha alma para cima


enquanto a terra engole meu corpo para baixo

terça-feira, 14 de junho de 2011

Frágil, Falsa, Agil

tão fragilmente feliz
num segundo seu mar de rosas incendeia
Teu sorriso ofuscante desmancha-se

teu equilíbrio delicado
passa de risadas falsas
a lágrimas tão sinceras

tuas verdades tão rasas
a todos pode enganar
mas por quanto tempo enganará a si mesma?

Quando chove eu me lembro

Quando chove eu me lembro
De coisas velhas e apagadas
Talvez lembranças inventadas
Do vento batendo nas folhas
Do barulho do mar verde

Quando chove eu me lembro
De tragédias fantasiadas
De dramas tramadas
Do som da chuva inspiradora
Criando historias inimagináveis

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nostalgia

Cada quarto é como velho e novo
é emocionante ver como estão
e ao mesmo tempo
decepcionante gostar de como eram

Correr pelos quintais
lembrar das brincadeiras
debruçar-se nas janelas de vidro
agir como criança

Cada canto tem uma historia
cada historia uma lembrança
lembranças essas
que me causam tamanha nostalgia

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Travesseiro de plumas" Quiroga

A partir do texto do Quiroga "travesseiro de plumas" eu criei um novo final, e aqui esta o conto com o final criado por mim. Espero que gostem. Angi

Travesseiro de plumas

Sua lua-de-mel foi um longo calafrio. Loura, angelical e tímida, o caráter duro de seu marido gelou suas sonhadas fantasias de noiva. Entretanto ela gostava muito dele, mesmo que, às vezes, com um leve estremecimento quando, voltando juntos à noite pela rua, ela lançava algum olhar furtivo à alta estatura de Jordao, mudo já há uma hora. Ele, por sua vez, amava-a profundamente sem, no entanto, dar disso qualquer mostra.

Durante três meses - casaram-se em abril - viveram uma felicidade especial. Sem dúvida ela houvera desejado menos severidade nesse rígido céu de amor; mais expansiva e descuidada ternura; mas o impassível semblante de seu marido sempre a detinha.

A casa em que viviam influenciava não pouco em seus estremecimentos. A brancura do quintal silencioso - frisos, colunas e estátuas de mármore - produzia uma outonal impressão de palácio encantado. Dentro, o brilho glacial do estuque, sem o mais leve arranhão nas altas paredes, acentuava aquela sensação de desagradável frio. Ao passar de um cômodo a outro, os passos encontravam eco por toda a casa, como se um profundo abandono houvesse sensibilizado sua ressonância.

Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Havia terminado, não obstante, por lançar um véu sobre seus antigos sonhos, e ainda vivia adormecida na casa hostil sem querer pensar em nada até chegar seu marido.

Não é de se estranhar que emagrecesse. Sofreu um ligeiro ataque de influenza que se arrastou insidiosamente por dias e dias; Alicia não se restabelecia nunca. Ao fim de uma tarde pôde sair ao jardim apoiada ao braço de seu marido. Olhava com indiferença a um e outro lado. De repente, Jordao, com profunda ternura, passou-lhe lentamente a mão pela cabeça, e Alicia desfez-se em lágrimas, lançando-lhe os braços ao pescoço. Chorou longamente todo seu espanto calado, aumentando o pranto à mais leve carícia de Jordao. Logo os soluços foram diminuindo, e ela ainda ficou alguns instantes escondida em seu peito sem mover-se ou pronunciar palavra.

Foi esse o último dia em que Alicia esteve em pé. No dia seguinte amanheceu desvanecida. O médico de Jordao examinou-a com extrema atenção, ordenando-lhe calma e repouso absolutos.

- Não sei - disse a Jordao na porta da rua. Ela tem uma fraqueza tão grande que não entendo. E sem vômitos, nada... Se amanhã ela despertar como hoje, telefone imediatamente.

No dia seguinte, Alicia amanheceu pior. Houve consulta. Foi constatada uma anemia crescente e agudíssima, completamente inexplicável. Alicia não teve mais desmaios, mas rumava visivelmente à morte. Durante todo o dia o quarto ficou com as luzes acesas e em total silêncio. Passavam-se horas sem que se ouvisse o menor ruído. Alicia permanecia meio adormecida. Jordao quase vivia na sala, com todas as luzes também acesas. Caminhava sem parar de um lado para o outro, com incansável obstinação. O tapete silenciava seus passos. De tempos em tempos entrava no dormitório e prosseguia seu mudo vaivém ao longo da cama, detendo-se um instante em cada extremo para observar sua mulher.

Logo Alicia começou a ter alucinações, confusas e flutuantes a princípio, mas que logo desceram rente ao chão. A jovem, com os olhos desmesuradamente abertos, não fazia senão olhar a um e outro lado do tapete sob a cabeceira da cama. Numa noite ficou de repente com o olhar fixo. Depois abriu a boca para gritar, e seu nariz e lábios brilharam de suor.

- Jordao! Jordao! - Gritou, rígida de espanto, sem deixar de olhar para o tapete.

Jordao correu para o quarto e, ao vê-lo aparecer, Alicia lançou um alarido de horror.

- Sou eu, Alicia, sou eu!

Alicia contemplou-o, ausente, olhou para o tapete, voltou a olhá-lo, e depois de um longo tempo de entorpecida confrontação voltou a si. Sorriu e tomou entre as suas a mão do marido, acariciando-a por meia hora, tremendo.

Entre suas alucinações mais recorrentes, houve um antropóide apoiado no tapete sobre os dedos, que tinha fixos nela os olhos.

Os médicos voltaram inutilmente. Havia ali diante deles uma vida que se acabava, sangrando-se dia a dia, hora a hora, sem que soubessem realmente como. Na última consulta, Alicia jazia em estupor enquanto lhe tomavam o pulso, passando de um a outro o seu braço inerte. Observaram-na longamente em silêncio e foram para a sala de jantar.

- Pst... - Deu de ombros o desalentado médico. É um caso inexplicável... Não há quase nada a ser feito...

- Só me faltava essa! - suspirou Jordao. E tamborilou bruscamente na mesa.

Alicia foi se extinguindo em subdelírio de anemia que se agravava durante a tarde, mas que melhorava às primeiras horas. Durante o dia sua enfermidade não avançava, mas a cada manhã amanhecia pálida, quase em síncope. Parecia que unicamente à noite a vida lhe escapava em novas ondas de sangue. Tinha sempre ao despertar a sensação de estar esmagada na cama com um milhão de quilos em cima. Desde o terceiro dia, esse aniquilamento não a abandonou mais. Mal podia mover a cabeça. Não quis que tocassem na sua cama, nem que lhe arrumassem o travesseiro. Seus terrores crepusculares avançavam agora em forma de monstros que se arrastavam até a cama, e subiam com dificuldade pela colcha.

Logo perdeu a consciência. Nos dois dias finais delirou sem cessar, a meia-voz. As luzes continuavam funebremente acesas no quarto e na sala. No silêncio agônico da casa, não se ouvia mais que o delírio monótono que vinha da cama, e o surdo retumbar dos eternos passos de Jordao.

Alicia morreu, por fim. A empregada, quando entrou depois para desfazer a cama, já sozinha, olhou com espanto o travesseiro.

- Senhor! - chamou Jordao em voz baixa. O travesseiro tem umas manchas que parecem de sangue.

Jordao aproximou-se rapidamente e inclinou-se sobre o travesseiro. De fato, sobre a fronha, de ambos os lados da marca que havia deixado a cabeça de Alicia, viam-se pequenas manchas escuras.

- Parecem picadas - murmurou a empregada depois de um instante de imóvel observação.

- Coloque-o na luz - disse a ela Jordao.

A empregada levantou o travesseiro; mas em seguida deixou-o cair, e ficou olhando, pálida e tremendo. Sem saber por quê, Jordao sentiu seus cabelos se arrepiarem.

- Que foi? - murmurou com a voz rouca.

- Pesa muito - balbuciou a empregada, sem parar de tremer.

Jordao levantou o travesseiro; pesava extraordinariamente. Saíram com ele e, sobre a mesa da sala de jantar, Jordao cortou a fronha e a capa com um só golpe. As penas de cima voaram, e a empregada deu um grito de horror com a boca totalmente aberta, levando as mãos crispadas à cabeça.

-ave Maria cheia de graça, o senhor é com...

-quieta mulher! Exclamou Jordao- parece que esta respirando.

A necessidade de rezar que Jordao sentia, era maior que a metade da arrumadeira que tremia ao seu lado.

- Por favor, pegue alguns panos limpos e encha uma bacia com agua morna. Fez uma pequena pausa- Ah! E feche todas as cortinas da casa, Só quero a luz das velas acesas.

-devo chamar um medico senhor?

-não! De modo algum! Escolha mais três empregadas e mande as outras para casa.

-que critério devo usar para escolhê-las?

Jordao pensou por um instante. Olhou para a criatura dentro do travesseiro e virou-se para a empregada.

-escolha as três que- olhou novamente para a criatura- as três mulheres que já tenham tido filhos.

-sim senhor!

A moça saiu apressada da sala segurando as saias enquanto Jordao encarava o travesseiro intrigado.

-o que é isso? Murmurou.

Mais tarde naquele dia.

O clima mórbido e escuro do sinistro ocupava todos os cômodos da casa que agora afundava no silencio dos mortos.

Os passos de Jordao ecoavam pelo luxuoso banheiro, que parecia preparado para um ritual, com as cortinas fechadas e as velas acesas, Jordao pegou o travesseiro (ou o que sobrou dele) com muito cuidado e o colocou sobre uma mesinha.

-damas-começou a falar- espero que estejam preparadas para as próximas tarefas que irei impor, se alguma não se sentir a vontade, pode sair.

Esperou por um momento. Nenhuma saiu

-pois bem- continuou- então vejam!

Dizendo isso, Jordao abriu o travesseiro, espalhando plumas e horror pelo banheiro.

O que causara tamanho pânico era mais absurdo do que horrendo.

A sua frente dormia o que se parecia com um recém-nascido, tirando o fato de que ao invés de um cordão umbilical sair do “bebê” como de costume, este em especial, tinha seis longos e firmes cordões umbilicais saindo do mesmo umbigo. Mas tirando isso, essa frágil criatura era sem sombra de duvida, o bebe mais gracioso que alguém já havia visto, seu pequeno corpo era forte porem delicado, alguns poucos fios de cabelo se mostravam prata como as estrelas, e seus olhos, mesmo estando fechados, eram enormes, maiores do que o normal, mas assim como tudo até agora, seus olhos eram também graciosos.

As criadas de tão encantadas esqueceram-se da aberração umbilical do bebê.

Vendo-as alucinadas com esse pequeno anjo, Jordao resolveu interromper antes que elas começassem a idolatrar o bebê.

-estou certo de que todas vocês tem filhos?

-sim senhor-responderam após alguns instantes.

-ótimo, então sabem como cuidar de um recém-nascido, vou deixa-las a vontade, apenas peço para que não vistam o bebê e muito menos lhe cortem os cordões, certo?

-sim senhor.

Dizendo assim, Jordao retirou-se para o quarto de Alicia, lá ele revirou as gavetas, os armários, procurou em cima e em baixo do colchão, procurou na escrivaninha e no lixo, o que tanto Jordao procurava, nem ele sabia ao certo, talvez seja por isso que não tenha encontrado. Depois resolveu procurar por pistas para descobrir algo sobre aquela loucura, também não achou nada. Por fim se cansou, sentou-se ao pé da cama, passou a mão por de baixo da mesma a procura de algo escondido. Achou um papel, um papel amassado, dentro havia manchas letras escritas às pressas, Jordao tentou lê-las, esforçou-se ao máximo, mas acabou desistindo.

Cansado, Jordao fechou os olhos. Encostado na cama de Alicia, envolvido em seu cheiro deixado nos lençóis, Jordao começa a delirar com suas lembranças.

De repente esta na sala ao lado do quarto, já é tarde da noite e Alicia esta gritando seu nome, Jordao corre para vê-la, quando ela o vê da um grito.

-sou eu Alicia, sou eu.

Ela o encara, depois olha o tapete, e de volta para ele.

“eu me lembro desta noite” pensa Jordao “foi antes de Alicia morrer, ela estava vendo algo no tapete...”.

No momento em que se virou para o tapete, Jordao viu o que sua mulher vira noites atrás.

Uma cegonha! Uma grande cegonha branca e formosa que olhava Alicia graciosamente antes de sair voando pela janela.

Quando virou-se para Alicia ela já havia voltado a si. Agora sorria, tomou a mão de Jordao e pôs-se a acaricia-la. Ele olhava para sua mão quando se espantou ao ouvi-la dizer:

“amado Jordao...”

Olhou-a sem ar.

Sua boca não se mexia, mas em seu ouvido continuavam a entrar as palavras de Alicia.

“sempre quisemos um filho não é mesmo? Mas sempre fui muito fraca... incapaz de dar a luz... mesmo assim, todas as noites eu sonhava em ter uma criança. Em uma dessas noites, Morfeu me visitou. Disse que viu meu sofrimento e que me ajudaria! Então ele plantou uma semente em meu travesseiro, semente que eu venho regando com minha vida e meu sangue, e alimentando com o sonho de ter um filho, seu filho Jordao! E quando eu partir ele estará pronto, não se preocupe querido, vai dar tudo certo...”.

Sorriu mais uma vez e beijou a mão do marido antes que ele fosse arrastado de volta a realidade.

Abriu os olhos lentamente. Olhou o papel em sua mão, agora estava em branco, sem letras, sem sangue, sem lagrimas.

Levantou-se num pulo e correu até o banheiro.

La encontrou o bebê enrolado em um pano de seda no colo de uma das empregadas. Aproximou-se lenta e silenciosamente. Passou a mão por seus cordões que se esfarelaram em uma areia dourada que Jordao juntou e guardou dentro de uma pequena ampulheta.

Gentilmente pegou a criança em seu colo, que por sua vez, lentamente abriu seus grandes olhos verdes para ver o pai. “Morfeu” cochichou Jordao “meu filho chamara Morfeu”

Oito anos mais tarde.

-papai! Papai! Chamava a criança com a ampulheta no pescoço.

-sim Morfeu? Respondeu Jordao.

-minha professora falou que a cegonha traz os bebês. È verdade?

-bom... Falou acariciando a cabeça do filho- ouvi dizer que os bebês saem dos sonhos das mães... -Jordao sorri ao ser contemplado pelos olhos verdes de seu filho- e repousam em seus travesseiros.

Fim