sábado, 7 de agosto de 2010

O Farol

1° dia

Aceitei este emprego para ter um motivo de me isolar do mundo, é muito mais fácil explicar as poucas pessoas que conheço, que virei a trabalhar e morar em um farol, do que dizer que vou morar em uma montanha isolada do mundo pelo simples fato de não me sentir confortável junto da companhia de outros seres humanos. Como presente de despedida, minha pequena sobrinha me deu este caderno, e falou para que usasse como diário. "a solidão leva à loucura" ela disse, brilhante garotinha, tem apenas seis anos, acho que será a única pessoa de quem sentirei falta.

2° dia

Acabei de desempacotar minhas coisas, não são muitas, nem poderia, quando vim morar neste farol eu sabia que o luxo não viria junto, mas não me importo, ninguém vira me visitar mesmo. Tudo o que preciso são de casacos de frio e de chuva, tem um biblioteca a alguns kilometros, posso passar la de vez em quando.
Não queria ter de escrever meus pensamentos todos os dias, não tenho nada a dizer, mas eu prometi a minha sobrinha que o faria, então aqui esta: Aqui onde estou é muito calmo... ando ao redor do farol de vez em quando, o mar molha minhas botas e encharca minhas meias... me lembro muito de minha infância... quando chovia, eu ia sozinho para o quintal com minhas botas de chuva, enfiava o pé na lama, jorrava agua para todo o lado,o capuz da minha capa de chuva caia deixando que toda a agua entrasse e molhasse meu pequeno corpo quente... quando me sentia molhado o suficiente para enlouquecer minha mãe, eu tirava minhas botas, assim me sentia mais livre, pulava pela grama, sentia as folhas secas quebrando sobre meus pés, e a lama entrando pelo meio de meus dedos...
Era ótimo... até eu entrar em casa e ver meu pai vindo em minha direção segurando a cinta e me mandando para o banho, mas ainda assim era ótimo, nada me tirava o prazer de sentir a agua gelada e pura da chuva. Realmente... este farol me traz muitas lembranças.

3° dia

É muito raro acontecer alguma coisa neste emprego, resumidamente, o que tenho que fazer é ficar atento durante a noite, durante a chuva ou quando estiver um dia muito nebuloso, porque em dias assim é muito fácil um barco bater nas rochas, por isso quem em dias assim eu preciso estar atento e com o farol funcionando. Mas ontem... ontem aconteceu algo muito estranho, um coisa de que eu nunca ouvi falar. Ontem a noite, estava chovendo, chovendo muito forte, a cada dez minutos eu olhava pelo binóculo para ver se vinha algum barco, eis que, as onze e meia, meus olhos mostraram algo que não pude acreditar. Um Barco, mas não era o barco que me impressionava, foi o que aconteceu depois que fez meu coração pular para minhas mãos. Examinei o barco por um tempo, procurei por números escritos nas laterais, procurei por alguma figura que identificasse o barco como barco militar ou coisa parecida, mas não achei nada, a chuva e a distancia não me ajudaram, continuei olhando o barco por mais alguns minutos, estava parado, completamente parado, nem as grandes ondas que batiam em seu casco o faziam mexer-se, até que uma hora, exactamente a meia noite, o barco começou a balançar de um lado para o outro, sozinho, de repente ouvi um barulho ensurdecedor seguido de gritos e choros, a chuva aumentou, o vento cortava o espaço, o mar se revoltava contra o barco que continuava apenas balançando de um lado para o outro, até que... tão rápido quando assustador, tudo silenciou-se, o mar se acalmou, a pesada chuva transformou-se em uma fina garoa e o vento uivava melodiosamente sob o fim da tempestade, o barco estava la, mas o binóculo estava muito embaçado, não pude ver quase nada, então o abaixei, passei um pano sobre as lentes e o botei sobre os olhos novamente, nada vi, onde estava o barco apenas restara... o nada. A água não havia se mexido, não ouvi nenhum barulho, na aconteceu nada... apenas estava la, e agora nao estava mais, esfreguei os olhos uma dezena de vezes, procurei pelos lados a procura do barco, nada, e nem poderia, nem um barco daquele tamanho se moveria tão rápido a ponto de ser perdido de vista, não era normal.



Continua...

Um comentário:

  1. Minininha, as férias renováram sua inspiração. Muito lindo o texto postado por você, depois de algum tempo ausente. Parabéns!
    Estou aguardando a continuação...

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